Na madrugada de 25 Abril de 1974, forças militares ocuparam pontos estratégicos em Lisboa e derrubaram a ditadura do Estado Novo, implantada também por militares em 1926.
Às primeiras horas da manhã, militares de vários ramos, ocuparam pontos estratégicos na capital portuguesa, com o objetivo de derrubar o regime do Estado Novo. Os sinais de código para dar o arranque das operações – canções de Paulo de Carvalho e Zeca Afonso – foram transmitidos através da rádio nas horas anteriores.
A zona dos ministérios, órgãos de comunicação e outros locais considerados sensíveis foram subjugados pelos militares sublevados.
A reação do regime foi lenta e ineficaz. O presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano, refugiou-se no Quartel do Carmo, de onde saiu sob escolta militar do capitão Salgueiro Maia, em direção ao exílio. Nas horas seguintes foi criada a Junta de Salvação Nacional.
O 25 de Abril de 1974: Um Dia Puro
É impossível pensar no dia 25 de Abril de 1974 sem ser possuído por um duplo sentimento: por um lado, o do júbilo, pelas realizações alcançadas no campo social, no campo económico, no campo urbanístico, no campo da ciência, enfim, em todos os campos que perfazem a totalidade da sociedade portuguesa, que sofreu um dos maiores impulsos de progresso de toda a sua já longa história; por outro e simultaneamente, ser totalmente inundado por um sentimento de pesar, pelo que se poderia ainda ter realizado no sentido de uma ética comunitária e não ser forçado a viver um autêntico regresso civilizacional nos costumes e na organização do Estado a que assistimos actualmente.
De facto, o dia 25 de Abril concentrou em si todas as qualidades ou virtudes éticas positivas desenvolvidas pela Civilização Ocidental: generosidade, liberdade, igualdade, solidariedade, fraternidade, bondade racional na relações com os outros, isolando o mal social de um grupo militar e político tão frágil e minoritário que desabou sem protestos audíveis. Neste sentido, o 25 de Abril foi, de facto, um dia puro, cheio de virtudes, ausente de manifestação de vícios e perversões, que recomeçariam mais tarde, criando a divisão, a desunião e o conflito entre grupos. Mas não no dia 25 de Abril, cuja explosão festiva foi recebida em todo o país como uma autêntica expansão de liberdade individual.
Deste dia puro, nasceu todo o bem celestial que inundou Portugal – a contenção nas divisões entre classes sociais, a universalização das pensões de reforma, o serviço nacional de saúde, a escola pública gratuita de qualidade, a consolidação de vencimentos razoáveis, o aumento da esperança média de vida, a vacinação geral das crianças, o recuo da tuberculose e do raquitismo para níveis mínimos, a protecção na velhice, enfim, a garantia para um pai e uma mãe de que terão pão sobre a mesa para os filhos, escola para os filhos, que estes no futuro terão direito a um salário decente e não serão explorados como novos escravos, a garantia de que os hospitais os acolherão em futura doença … Com efeito, as ondas de choques deste dia puro promoveu um estado geral de bem-estar e de prosperidade como nunca houvera em Portugal.
Porém, verdadeiramente, a pureza não é deste mundo, e rapidamente a cisão e o conflito tomaram conta da sociedade portuguesa, iniciando-se, a partir da década de 1990, um retorno a antigos estados de pobreza e de exploração, próprios do Terceiro Mundo. Uma elite histórica e culturalmente ignorante, comandada há 25 anos pelo Prof. Cavaco Silva, utilizando modelos económicos estranhos à cultura portuguesa, tem vindo, desde há cerca de 1o, 15 anos, a fazer retroceder o país para níveis de desigualdade social e de pobreza económica que se presumiam definitivamente superados.
Hoje, 40 anos depois do 25 de Abril de 1974, em nome de um estado liberal, temos a maior carga fiscal de sempre, que afoga as famílias de classe média e premeia a especulação financeira, o lastimoso espectáculo de quase um milhão de desempregados (verdadeiramente, 1,4 milhões), 660 mil famílias que não conseguem pagar empréstimos à banca, mais de 2,7 milhões de pessoas no limiar da pobreza, que, sem os apoios sociais do Estado, atingiria a cifra astronómica de 4 milhões, 250 000 novos emigrantes desde 2011…

